quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Vítima




Diante de uma boca pequena ouvi as frases malditas dizendo “socorro”. No silêncio de um quarto, no canto de um sofá, na miséria do silêncio, calada, surda, desesperada a criança gritava e no seu silencioso grito calei-me também acreditando que Deus iria socorrê-la, pois eu não podia... Ou poderia?

Sim, poderia. Eu poderia não me calar. Eu poderia ensina-la a não se calar. Eu poderia evitar. Eu... Sim, se EU quisesse.
Diante de milhares, e eu não digo ‘diante de alguns números’, digo, diante de milhares de vítimas da violência sexual infantil, juvenil, Eu, pai, mãe, irmão, amigo, amiga, vizinho, professor, cidadão de bem, muitas vezes me calo. Por quê? O dito hoje em dia “não me meto onde não sou chamado” é um dos motivos maiores do calar-se diante da injustiça, diante do terror, diante da miséria que é a vida de alguns inocentes. Quem cala consente. Quem não denuncia, participa indiretamente no acontecido.
Esta semana uma notícia me chocou como tantas outras nos chocam, esta é apenas mais uma a nos chocar, mas que foi por calar que ela aconteceu, foi por silenciar a vítima e somente esta pode ser chamada de vítima, uma criança, mais uma criança, uma cidade do interior, como tantas outras interioranas, como tantas outras vítimas em que a população, a vizinhança, os parentes, os amigos, a escola, o Conselho Tutelar e tantos outros sabem e não expõem o acontecido.
Uma criança, uma vítima do descaso, engravida, com 11 anos de idade torna-se mãe. E que mãe esta seria? Uma mãe que terá marcas para o resto da vida do silêncio de todos! Porque não se espera que uma criança de 10, 11 anos tenha a noção de falar se não é ensinada a fazer isso!
A lei de proteção à criança e adolescente, o ECA, foi criado em 13 de julho de 1990, e tem como objetivo principal proteger a integridade de crianças e jovens entre zero e 18 anos. Toda ação cometida por jovens dentro dessa faixa etária são julgadas pela Lei do Estatuto. Em outubro de 2003 alguns dos artigos do ECA sofreram alterações, como: a ampliação de penas para crimes cometidos contra menores de 18 anos, a exigência de maiores cuidados na utilização e publicação de fotografias por qualquer meio de comunicação, inclusive pela Internet e a proibição da divulgação de nome, sobrenome, referência, apelido, fotografia, filiação, parentesco e residência do adolescente a que se atribui o ato infracional.
Bem, diante desse fato, o que podemos dizer a respeito dos direitos a criança e adolescente se pouco vemos ação da parte dos responsáveis pela lei e diante da negligencia da população? Pois os atos de abusos, não só sexuais, mas de todo o tipo, pela internet vemos aí muitos sites, páginas, blogs, fotos de menores sendo abusado e até ao vivo. Onde está essa lei em ação que não vejo? Onde está as restrições dos sites nas postagens? Qualquer um pode ver, qualquer menor, maior, cidadão, marginal pode ver fotos, vídeos, postagens de abusos na internet, revistas!
Para parar isso basta apenas discarmos [100] para denunciar anonimamente abusos contra crianças, adolescentes, etc., e assim mesmo nos calamos?
A ligação para o número 100 é gratuita de qualquer tipo de telefone. Quem disca 100, encontra do outro lado da linha uma pessoa preparada para ouvir.
A central do Disque 100 fica em Brasília. O anonimato protege quem faz e quem recebe a denúncia. 
Então vamos por a nossa mão na consciência e pensarmos que a próxima vítima pode estar ali ao nosso lado, as crianças são o futuro de nosso país e que país é esse que quer ser dirigido, criado, seguido por adultos transformados no seu caráter? Vamos mudar a cara do Brasil de verdade, vamos mudar nosso conceito de vida, o conceito da liberdade, o conceito de igualdade, o conceito de marginalidade. Quando mudarmos o nosso modo de pensar, de agir e lidar com o que acontece ao nosso lado, quando mudarmos essa nossa atitude de falar em vez de calar é que aí sim nos tornaremos participantes de um país que quer mudar de verdade! 
Não se cale, denuncie! Disque 100 para salvar a próxima vítima!
Eu teria muito a falar sobre isso, mas diante de tantos fatos eu deixo na consciência de cada leitor desse blog a pergunta: até quando você ficará indiferente diante dessa situação? Olhe para o lado, será que sua criança está segura? Reflita!

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